No seu primeiro filme como diretora, Leandra Leal dá um olhar bastante subjetivo, emocional e tocante para contar a história das primeira geração de travestis artistas do Brasil: Rogéria, Valéria, Jane Di Castro, Camille K, Fujica de Halliday, Eloína, Brigitte de Búzios e Marquesa.
Nos anos 70, essas artistas se apresentavam no teatro que era do avô da diretora e desde cedo suas histórias se cruzaram. Inclusive, ela narra várias histórias de infância onde vivenciou nesse mundo atrás das coxias. Isso também leva Leandra a contar um pouco mais sobre sua família; sua mãe, seu avô, seu pai e padrinho. Inclusive, a cena na qual as travestis andam em direção ao teatro enquanto a diretora fala sobre sua vivência com o pai e padrinho está entre as mais emocionantes da obra.
O documentário pode ser considerado um ato político e vem em um momento importante, visto que dá uma visão íntima e esclarecedora sobre travestis em uma época onde vemos ideias preconceituosas e patriarcais ganharem cada vez mais vozes. Leandra vai ao íntimo dessas mulheres e nos faz as conhecer e admirar, como se estivéssemos sempre com elas, assim como a diretora esteve desde a infância. Ainda é preciso lembrar que o auge dessas artistas foi durante a ditadura militar e o filme faz questão de lembrar disso e tocar nesse ponto triste da história do país.
Divinas Divas nos faz rir com as piadas e bom humor dessas alegres artistas e ao mesmo tempo chorar, principalmente nas cenas em que algumas delas falam sobre seus companheiros e grandes amores. Destaque para a cena com Fujica de Hálliday, ao som de música de Roberto Carlos, relembrando sobre o marido falecido.
Se Leandra Leal já era muito bem vista por nós por seus trabalhos como atriz (inclusive, esteve maravilhosa recentemente na minissérie Justiça) e por sua opinião política, agora ela se consagra totalmente em nossa visão com esse lindo documentário. Divinas Divas precisa ser reconhecido, assim como o trabalho de Leandra e dessas divinas divas!
Esse filme foi assistido por nós na 40ª Mostra Internacional de Cinema, mas ainda não tem data de estreia oficial nos cinemas nacionais.
